Penne do Pousada do Lago Noticias / Leilão: Rolls‑Royce verde de Elizabeth Taylor vende por US$520 mil em Nova Iorque

Leilão: Rolls‑Royce verde de Elizabeth Taylor vende por US$520 mil em Nova Iorque

Leilão: Rolls‑Royce verde de Elizabeth Taylor vende por US$520 mil em Nova Iorque

Quando Elizabeth Taylor, a icônica atriz de Hollywood, recebeu um Rolls‑Royce Silver Cloud II pintado de verde em 1960, ninguém imaginava que o carro se tornaria objeto de um leilão milionário quase seis décadas depois. O que aconteceu na noite de 6 de agosto de 2019, no Pierre Hotel, em Nova Iorque, chocou colecionadores: o "Green Goddess" foi arrematado por apenas US$520.000, bem longe da estimativa de US$2 milhões.

Contexto histórico: amor, glamour e um carro feito sob medida

O Rolls‑Royce chegou às mãos de Eddie Fisher, então marido de Taylor, como presente de casamento em 1960. Fisher, famoso cantor pop da época, encomendou um modelo Drophead Coupé que seria pintado em um tom exclusivo de "smoke green", exatamente igual ao vestido da noiva. A própria Rolls‑Royce, empresa Rolls‑Royce Motor Cars, desenvolveu a cor sob medida, algo raro até para a marca.

A produção do Silver Cloud II de 1961 foi limitada – apenas 20 unidades foram fabricadas com direção à esquerda, e a de Taylor era uma das poucas que cruzaram o Atlântico para os EUA. Equipado com um motor V8 de 6,2 litros que gerava cerca de 185 cavalos, o carro alcançava até 185 km/h, além de ostentar interior revestido em verde com madeira de carvalho de búlgara. Nas portas, discretas iniciais "E" e "E" – de Elizabeth e Eddie – marcavam a união recém‑formada.

Da tela prateada às ruas de Roma: o carro na vida de Taylor

O "Green Goddess" acompanhou Taylor em sua viagem a Roma em 1962, durante as filmagens de "Cleópatra". Foi naquele cenário que a atriz conheceu Richard Burton, co‑estrela que se tornaria seu amante e, mais tarde, segundo marido. Segundo relatos de jornais da época, o carro sofreu um amassado na dianteira quando Fisher conduzia para o set, mas foi rapidamente reparado em uma oficina local.

Mesmo após o divórcio, o Rolls‑Royce permaneceu ao lado de Taylor. Ele foi visto estacionado diariamente em frente à sua bungalow no Beverly Hills Hotel, tornando‑se praticamente um símbolo da vida luxuosa da atriz. O veículo também estampou capas de revistas como "Vanity Fair" e foi mencionado em colunas de fofoca como "o carro mais famoso de Hollywood".

O caminho até o leilão de 2019

Na década de 1970, Taylor decidiu vender o clássico. O anúncio foi publicado no "Wall Street Journal" e o comprador, o colecionador californiano Karl Kardel, adquiriu o carro em condições misteriosas: ele negociou apenas com a secretária da atriz, não pôde testar o veículo e pagou um valor não revelado. Kardel chegou a afirmar que nunca viu a estrela dirigir, brincando: "Não acho que Elizabeth tivesse carteira de motorista".

Décadas depois, o carro retornou ao mercado quando Guernsey's New York, casa de leilões fundada por Arlan Ettinger, decidiu oferecer o veículo ao público. O leilão foi marcado para 7h30, numa sala coberta pelos marcos arquitetônicos do Pierre Hotel – o mesmo local onde Taylor vivia quando recebeu o carro.

Resultado inesperado: US$520 mil contra US$2 milhões

Na noite do leilão, o martelo caiu em US$520.000, vendido a um comprador anônimo cujo nome não foi divulgado. O número ficou quatro vezes abaixo da estimativa de US$2 milhões feita pelos avaliadores. Ettinger comentou ao final da sessão: "Este tipo de carro foi o último dos verdadeiros Rolls‑Royces. Depois do Silver Cloud, os modelos ficaram mais "normais" e perderam parte da singularidade que tanto admiramos".

Analistas de mercado apontam que o preço pode ter sido influenciado por duas questões: a condição física do veículo – que ainda apresenta alguns danos menores da década de 60 – e a demanda limitada por carros tão específicos. Além disso, o público colecionista de Hollywood pode ser mais cético quanto ao valor emocional versus o valor de revenda.

Reações e significado cultural

Reações e significado cultural

Fãs da atriz e especialistas em automóveis expressaram surpresa. Classic Cars Magazine escreveu que o "Green Goddess" era mais que um automóvel; era um pedaço da história de Hollywood, testemunha de romances e escândalos. Por outro lado, consultores financeiros sugeriram que o leilão demonstra como itens de memorabilia podem oscilar drasticamente de valor, dependendo do momento econômico.

Para Nova Iorque, o evento reforçou a reputação do Pierre Hotel como palco de grandes memórias de celebridades. Já para os colecionadores, a venda abre caminho para que outros veículos de estrelas — como o Cadillac de Marilyn Monroe ou o Jaguar de James Dean — possam ganhar nova vida em casas privadas.

O que vem a seguir para o "Green Goddess"?

Embora o novo dono tenha optado por permanecer anônimo, espera‑se que o Rolls‑Royce seja restaurado por um especialista em veículos de época e eventualmente exibido em um museu de automóveis de luxo ou em eventos privados de elite. A tendência atual mostra que carros de celebridades são frequentemente incluídos em exposições itinerantes, permitindo que o público admire peças que, de outra forma, permaneceriam em garagens fechadas.

Enquanto isso, historiadores da cultura pop continuam a estudar a influência da posse de objetos de luxo na construção da imagem pública de estrelas como Taylor. O carro, ao ser vendido por preço bem abaixo da previsão, reforça a ideia de que o valor sentimental nem sempre se traduz em valor de mercado.

Conclusão

O leilão de 2019 marcou o fechamento de um capítulo que começou em 1960, quando a "Green Goddess" cruzou o Atlântico como presente de casamento. Da costa de Nova Iorque às ruas de Roma, o carro acompanhou amores, filmes e duas décadas de glória hollywoodiana. Agora, em mãos desconhecidas, ele aguarda sua próxima aparição — talvez em uma vitrine de luxo ou em outra história de celebridades que ainda está por ser escrita.

Frequently Asked Questions

Qual foi o motivo do preço final ficar tão abaixo da estimativa?

Especialistas apontam que o estado de conservação do carro, a presença de pequenos danos da década de 60 e a oferta limitada de colecionadores dispostos a pagar preços elevados influenciaram o resultado. Além disso, o mercado de memorabilia de celebridades pode ser volátil, reagindo a tendências econômicas e ao interesse imediato dos compradores.

Quem foi o comprador do Rolls‑Royce?

O leilão revelou apenas que o bem foi adquirido por um comprador anônimo. Não foram divulgados nome, nacionalidade ou planos imediatos para o veículo.

Qual a importância histórica do Silver Cloud II para a Rolls‑Royce?

O Silver Cloud II representa a última geração de modelos Rolls‑Royce produzidos antes da empresa adotar designs mais "normais" nos anos 60. É considerado um dos últimos exemplares que combinam luxo artesanal com desempenho superior, razão pela qual colecionadores o valorizam tanto.

Como o carro foi usado por Elizabeth Taylor ao longo dos anos?

Além de servir como presente de casamento, o Rolls‑Royce acompanhou Taylor em viagens internacionais, como a turnê a Roma durante as filmagens de "Cleópatra", e foi frequentemente visto estacionado na frente de sua residência no Beverly Hills Hotel. Ele também esteve presente em capas de revistas e eventos de gala, consolidando sua imagem como símbolo de glamour.

O que pode acontecer com o carro agora?

Embora o novo proprietário prefira o anonimato, espera‑se que o veículo passe por restauração especializada. Ele pode ser exibido em museus de automóveis de luxo ou participar de eventos privados de colecionadores, mantendo viva a conexão entre a história automotiva e a lenda cinematográfica de Elizabeth Taylor.

1 comentário

Samara Coutinho

Samara Coutinho

O leilão do Rolls‑Royce verde de Elizabeth Taylor funciona como um espelho metafísico que reflete a tensão entre o brilho efêmero da fama e a permanência material dos objetos. Cada centímetro da carroceria pintada de “smoke green” carrega não só a tinta, mas a história de um casamento que se tornou lenda, com Eddie Fisher oferecendo um presente que, décadas depois, ainda conversava com quem o via. Quando o martelo caiu em US$520 mil, o preço parecia subestimar o valor simbólico que a sociedade atribui a ícones culturais, mas ao mesmo tempo revelou a crua realidade do mercado de colecionáveis, onde a nostalgia compete com a avaliação objetiva. A memória coletiva de Hollywood confere ao carro um aura quase religiosa, como se o “Green Goddess” fosse um relicário de glamur e tragédia. Essa aura, contudo, não se traduz automaticamente em cifras elevadas, pois os colecionadores racionais ponderam o estado de conservação e a escassez de compradores dispostos a investir milhões por um veículo que ainda tem danos de décadas passadas. Em termos econômicos, o leilão demonstra como a volatilidade dos ativos de memorabilia pode ser exacerbada por fatores externos, como a conjuntura financeira global e a percepção de risco. Filosoficamente, somos levados a questionar se o valor intrínseco de um objeto pode ser dissociado da sua história, ou se a narrativa que o envolve é inseparável da sua avaliação monetária. Quando admiramos o Rolls‑Royce, não vemos apenas um motor V8 de 6,2 litros, mas também o reflexo de escolhas, amores e rupturas que moldaram a vida de uma das maiores estrelas do século XX. Cada detalhe, desde as iniciais “E” nas portas até o interior de carvalho búlgaro, funciona como uma página de um diário silencioso que fala sobre poder e vulnerabilidade. O fato de o carro ter atravessado o Atlântico, sido usado em Roma e depois permanecesse estacionado em Beverly Hills, acrescenta camadas de significado que transcendem a mera estética automobilística. A decisão de vendê‑lo novamente, décadas depois, pode ser vista como um ato de perpetuação da memória, ou como uma desconexão pragmática da era das celebridades que buscaram transformar objetos em investimentos. O leiloeiro Arlan Ettinger, ao comentar que “este tipo de carro foi o último dos verdadeiros Rolls‑Royces”, sublinha a transição de uma era artesanal para uma produção mais “normal”, reforçando a ideia de que a autenticidade está em risco de ser diluída. Entretanto, a própria noção de “verdadeiro” pode ser questionada: o que define autenticidade? A cor sob medida, a autoria da celebridade, ou a condição material do veículo? Em última análise, o leilão nos convida a refletir sobre como atribuímos valor ao passado, e se esse valor permanece constante ou se muda conforme as lentes culturais do presente. Assim, o “Green Goddess” continua a sua viagem, agora não nas ruas de Nova Iorque, mas nos corredores da nossa imaginação, onde seu significado se reescreve a cada nova história contada.

Escreva um comentário