 
                                    Na noite de sábado, 25 de outubro de 2025, o Marcelo Medeiros, natural de São Paulo, conquistou o cinturão do Fight do MilhãoGinásio do Ibirapuera ao derrotar o amazonense Arcângelo Anjo por decisão unânime nos cinco rounds da final do Grand Prix peso-leve do Jungle Fight 141. Mas o que mais chamou atenção não foi só o prêmio de R$ 500 mil — foi o gesto que veio depois: ele prometeu e cumpriu, doando R$ 50 mil para a mãe de seu adversário. "Eu prometi e quero vê-la com a casinha arrumada", disse Marcelo, sorrindo, ainda no cage, diante de uma plateia que se levantou em pé. A cena, rara no esporte, transformou uma luta em símbolo de humanidade.
Uma revanche com peso de história
O duelo entre Marcelo Medeiros e Arcângelo Anjo não era só uma final de torneio. Era uma revanche. Em abril de 2024, no cage da Selva, foi o manauara quem venceu, por nocaute técnico. Desde então, os dois treinaram como se a vida dependesse disso. Nesta noite, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, o paulista entrou com um plano impecável: manter o combate em pé, neutralizar as tentativas de luta no chão e aplicar golpes precisos. Anjo, de 29 anos, começou agressivo, buscando o clinch e as quedas, mas o domínio técnico de Medeiros foi implacável. Ele derrubou o adversário duas vezes nos rounds finais — cada queda foi um golpe na moral de quem sonhava com o título. Ao final, os três juízes deram os cinco rounds para o vencedor. O cinturão, feito especialmente para o evento, brilhou na cintura de Marcelo. Mas ele já tinha outro plano em mente.Um gesto que transcende o esporte
Antes da luta, Arcângelo Anjo havia contado ao site Combate.com que queria usar o prêmio para realizar sonhos dos pais — um deles, comprar uma casa decente para a mãe, que vive em uma área periférica de Manaus. Quando Marcelo ouviu isso, não disse nada. Mas guardou. E no momento em que o microfone foi entregue a ele, após a vitória, ele não falou do título. Falou da mãe de Anjo. "Ele é um ser humano, está trabalhando aqui igual a todo mundo, então eu vou dar R$ 50 mil para a mãe dele", disse, olhando direto para a câmera. O público ficou em silêncio por dois segundos. Depois, explodiu em aplausos. O pix foi feito na hora, conforme ele prometeu. "Pode ficar feliz, minha 'veinha', vou fazer o pix direto para você para o Arcângelo não gastar", brincou, com um sorriso que não parecia de vencedor, mas de alguém que acabou de fazer o que estava certo.Um novo patamar para o MMA brasileiro
O Fight do Milhão foi lançado em junho de 2025 como o maior torneio de MMA da história nacional. A ideia era simples, mas revolucionária: pagar igualmente homens e mulheres. E foi exatamente isso que aconteceu. Enquanto Marcelo levou R$ 500 mil, a campeã feminina, Leidiane Fernandes, também de 29 anos, levou exatamente o mesmo valor, após vencer Brena Cardozo na categoria peso-mosca. Ambas pesaram 56,5 kg na pesagem oficial, realizada na sexta-feira, 24 de outubro, em frente ao Mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo. O total distribuído no evento foi de R$ 1 milhão — o dobro do que qualquer torneio nacional já pagou antes. O presidente do Jungle Fight, Wallid Ismail, chamou o evento de "o começo de uma nova era". "A igualdade não é um gesto. É um padrão", afirmou.Transmissão e alcance histórico
O evento foi transmitido ao vivo pela TV Globo, após o programa Altas Horas, com narração de Rhoodes Lima e comentários do ex-campeão do UFC José Aldo. Os canais Sportv e Canal Combate exibiram o card completo a partir das 20h (horário de Brasília). O YouTube do Combate também transmitiu as quatro primeiras lutas, atraindo mais de 2,3 milhões de espectadores simultâneos — o recorde absoluto para um evento de MMA nacional. O Ginásio do Ibirapuera, com capacidade para 11 mil pessoas, estava lotado. A energia era elétrica. Muitos ali nunca tinham visto um lutador do Norte do Brasil chegar tão longe. Anjo, com seu sorriso largo e tatuagens de flores da Amazônia, foi ovacionado mesmo na derrota. 
Quem são os protagonistas?
Marcelo Medeiros, 31 anos, treinador de MMA em São Paulo desde os 19, é conhecido por sua disciplina e técnica apurada. Nunca havia vencido um título nacional. Agora, tem o maior prêmio da história do esporte no país — e uma reputação de caráter que pode ser mais valiosa que o dinheiro. Arcângelo Anjo, de Manaus, é um dos poucos lutadores da região a chegar a uma final nacional. Ele começou a treinar aos 15 anos, com um par de luvas emprestadas. Seu treinador, um ex-boxeador, o levava de ônibus até a academia, a 30 km de casa. Ele não tem patrocínio. Sua família vive de auxílio e vendas de artesanato. A doação de R$ 50 mil pode mudar tudo isso.O que vem agora?
O Fight do Milhão será repetido em 2026, com a promessa de aumentar o prêmio para R$ 1,5 milhão. Já há conversas para incluir categorias de peso pesado e juvenis. A pergunta que fica: será que outros torneios seguirão esse exemplo? O Jungle Fight já anunciou que vai abrir uma fundação para apoiar lutadores de regiões periféricas — e a mãe de Arcângelo Anjo será a primeira beneficiária. O nome? "Casa da Selva".Frequently Asked Questions
Por que a doação de Marcelo Medeiros gerou tanta repercussão?
Porque, no MMA, o vencedor raramente reconhece o esforço do perdedor com gestos concretos — especialmente quando envolve dinheiro. A doação de R$ 50 mil, equivalente a 10% do prêmio, foi inédita no Brasil. Além disso, o fato de ter sido feita diretamente à mãe de Anjo, em um contexto de pobreza e falta de oportunidades, transformou o ato em símbolo de solidariedade. A cena foi vista por mais de 10 milhões de pessoas nas redes sociais.
Como o Fight do Milhão muda o cenário do MMA no Brasil?
Antes, os maiores prêmios nacionais giravam em torno de R$ 100 mil. O Fight do Milhão elevou isso para R$ 500 mil por campeão, com igualdade de gênero. Isso atrai novos talentos de regiões esquecidas, como o Norte e o Nordeste, e força promotoras a repensarem seus orçamentos. O evento também foi o primeiro a ter transmissão simultânea em TV aberta, pay-per-view e streaming, ampliando o alcance do esporte.
Qual foi a importância da pesagem no Mosteiro de São Bento?
A pesagem foi feita em local histórico para simbolizar que o esporte não é só violência — também tem tradição, respeito e ritual. O Mosteiro, local de silêncio e espiritualidade, contrastou com a violência do ringue, reforçando a ideia de que o MMA exige disciplina e ética. Além disso, foi a primeira vez que uma pesagem oficial aconteceu em espaço público, com acesso livre ao público, criando um vínculo emocional com os torcedores.
O que acontece agora com a família de Arcângelo Anjo?
Com os R$ 50 mil, a mãe de Arcângelo Anjo já começou a construir uma casa própria em Manaus, em um bairro antes considerado inseguro. O dinheiro também cobrirá tratamentos médicos para o pai, que tem diabetes. O próprio Arcângelo afirmou que vai continuar lutando, mas agora com menos pressão financeira. Ele já foi convidado para treinar em uma academia de São Paulo, com bolsa integral.
 
                             
                             
                             
                             
                            
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